Ao decidir-me a compilar a
história do “Lar de Medelim”, anotando as alterações nominais por que o mesmo
já passou, observei algumas inconsistências nos relatos que ouvi, assim como
algumas menos boas atitudes no que toca ao reconhecimento da sociedade medelinense
aos benfeitores e mecenas que nestas coisas do “social e da solidariedade”, são
basilares.
Sequência fotográfica das fases por que o local onde está o
Lar passou
(Fotos antigas a preto e branco [FM] – Foto da actualidade [FP])
Ao contar esta história, porque é
minha convicção de que há, efectivamente, pessoas que não devem ser
“esquecidas” ou até ostracizadas, estou convicto da justeza que creio ter
exposto de forma equilibrada (dando o seu a seu dono), no entanto, não me
parece que vá agradar a todos e estou obviamente sujeito e aberto à crítica
desde que seja construtiva e que não desvirtue a verdade dos factos históricos.
Também, algum facto ou imagem que
os visados considerem não ser pertinente a sua publicação, devem manifestar
esse desejo a fim de emendar essas referências.
Bem hajam aos que na sociedade
medelinense contribuíram desinteressadamente com fotografias e relatos que me
permitiram fazer esta compilação.
António Pires (2017)
Entrada principal do Lar de Medelim na actualidade [FP] |
Em 1953, na conclusão da apresentação cujo tema foram os “Centros de Assistência Rural” ficou registado como conclusão que, “Em face ao exposto, sou do parecer que, à semelhança da acção que o Senhor Doutor José de Carvalho, Governador Civil do Distrito de Castelo Branco, projecta realizar em todo o distrito, o Congresso das Beiras se proponha estudar devidamente o assunto e, na medida do possível, se criem centros de assistência rural no País, analogamente ao que sucede na aldeia de Medelim, depois de adaptado às necessidades locais.” [1]
A história do “Lar de Medelim”
tem, como todas as histórias, um lastro de histórias anteriores que alicerçam a
sua própria história. Assim, esta história está intimamente ligada à história
de vida que foi a de Maria Rita Pires Marques que, em Medelim todos conheciam
por D. Mimi.
D. Mimi – Início da década de 1960 [FM] |
A azáfama à entrada do que é hoje o Lar, era assim no tempo da D. Mimi. [FM]
|
D. Mimi – Final da década de 1970 [FL]
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“A Mimi, de seu completo nome Maria Rita Pires Marques, nasceu em Medelim a 23 de Abril de 1914, filha de António José Pereira Ramos e de Angélica Pires Marques. Frequentou durante 10 anos o Colégio das Irmãs Doroteias em Vila do Conde. Terminados os estudos regressou à sua terra natal em 1931”. [2]
D.Mimi [FM]
|
É então na década de 30 do século
XX que a D. Mimi toma conta de cinco raparigas de Medelim que tinham ficado
órfãs de mãe e inicia as bases do que viria a ser oficialmente designado por
“Creche e Casa de Trabalho de Medelim”, instituição de solidariedade que
funcionou com estatutos próprios devidamente aprovados.
As cinco órfãs de mãe que estiveram na origem do serviço de internato [FM] |
É nesta actividade que com a
colaboração da sua grande amiga Maria da Natividade Quilhó, ensinam dezenas de
raparigas a costurar e a bordar.
Maria Quilhó [FM] |
A valência “Creche” para
funcionar com crianças da mais tenra idade, era deviamente alicerçada nos
conhecimentos técnicos que à data eram se não exigidos, pelo menos eram
recomendáveis, e, obrigaram a D. Mimi a fazer um curso de puericultura,
conhecimentos que ela, responsavelmente aplicou enquanto a valência funcionou.
D. Mimi e o trabalho responsável na creche [FM]
|
O pátio interior do que é hoje o Lar de Medelim, foi uma creche muito activa [FM]
|
Num outro opúsculo, em referência ao seu trabalho, a D. Mimi é apontada que:
“(…) Fazia-o fazendo-se rodear de amigos apoiantes, de entre os quais
se destacaram seu irmão e cunhada, Dr. Francisco Pires Marques e Dra. Isaura
Pereira do Rosário Canto; a D. Maria Delfina Franco Falcão Lopes Cardoso e o
Dr. João Lopes Cardoso”. [3]
Isaura Pereira R. Canto e Francisco Pires Marques [FM] |
Na prática, além do irmão e da cunhada, também o casal Lopes Cardoso foi uma âncora financeira às actividades de solidariedade social levadas a cabo pela D. Mimi, pois sempre que precisava de dinheiro, eles estavam lá, sempre disponíveis para contribuir.
Dr João Lopes Cardoso [FL] |
Direi que há uma outra figura de
merecida notoriedade na comunidade. Esta é na pessoa de seu tio Victor Pires
Franco que lhe disponibilizou (por doação ou por herança) as instalações que a
alavancaram para a prática das acções sociais que levou a cabo.
Victor Pires Franco [FM]
|
Entretanto, a “Creche e Casa de
Trabalho de Medelim”, por notório envelhecimento da população, criou, à época a
ideia de que tal actividade deixaria de se justificar, tendo fechado portas em
1977 e, todos os seus bens foram doados à “Santa Casa da Misericórdia de
Medelim”, onde ainda hoje se mantêm.
Extracto do Diário da República III série nº 229
No entanto, voltando à nossa
história, já a D. Mimi, com o sentido de solidariedade e o visionamento das
reais necessidades da comunidade, tinha criado uma cozinha social onde
diariamente era confeccionada sopa que era fornecida aos mais necessitados.
O local onde se confeccionava a “sopa” ainda hoje existe e está preservado [FM] |
(Onde se confeccionava a sopa - Foto da actualidade) [FP] |
Na época, a panela da sopa, integrada na cozinha social era
distribuída aos mais pobres e constava de: (80
litros de água, meio alqueire de feijão, uma cesta de couves e, umas vezes com
uns bagos de arroz, outras vezes com massa).
Havia no local, um sino que alguém tocava ao meio dia, hora a que a
sopa ficava pronta para distribuir.
Duas notáveis fotografias que documentam o verdadeiro móbil
da D. Mimi. [FM]
O pátio do actual Lar de Medelim, foi testemunha de uma
época que não devemos esquecer.
Sempre acompanhada pelos amigos,
nomeadamente pela Irmã Teresa que desde início se aplicou por inteiro ao
serviço e da família, autênticos mecenas que nunca lhe negaram a necessária
ajuda, a D. Mimi faz a sua última obra, o “Centro de Dia” para a população mais
idosa começando a actividade a 16 de Outubro de 1982.
Irmã Teresa [FL] |
Por esta altura, reactivou a Santa Casa da Misericórdia de Medelim,
através da qual veio a iniciar o Centro Paroquial de Solidariedade Social de
Medelim, assunto várias vezes abordado nas reuniões da Santa Casa da
Misericórdia, conforme consta de várias das suas actas.
É também através da Santa Casa da Misericórdia de Medelim que são canalizadas as
verbas então doadas ainda ao Centro de Dia, iniciando a Santa Casa da
Misericórdia esse processo com a doação feita por ela própria de 5.000,00
euros.
Também à época, a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, financiou a
construção da cozinha com o que seriam cerca de 35.000,00 euros e que ainda hoje
serve o Lar.
Pátio interior (à época) do Centro de Dia [FM] |
Fotos ao tempo do Centro de Dia (extraídas dos folhetos de divulgação da época) |
Nos últimos meses de vida, (veio
a falecer em Lisboa a 5 de Abril de 1984), a D. Mimi, doa à Igreja Paroquial, a
Tapada da Eira e os dois prédios urbanos com o quintal onde já funcionava à
data o “Centro Paroquial de Solidariedade Social de Medelim”, cujos estatutos
foram formalizados e aprovados em 1 de Abril de 2006.
A D. Mimi, foi por várias vezes homenageada e recordada como benfeitora dedicada à comunidade.
Bom, e é a partir daqui que começa
a história recente do “Centro Paroquial de Solidariedade Social de Medelim” a
que simplificadamente chamam “Lar de Medelim”, mas, a instituição continua a
precisar dos amigos e mecenas que com maiores ou menores contribuições,
viabilizaram a necessária modernização das instalações e o funcionamento da
IPSS, pertencentes à Igreja Paroquial. A instituição mantém até aqui, as
valências de “Apoio Domiciliário” e de “Centro de Dia” mas, em breve terá
também a valência “Lar”.
Na acta nº 32 do entretanto
extinto “Conselho Geral”, datada de 17 de Abril de 2010, é mencionado que: “Houve um forte crescimento nos donativos à
Instituição, a qual se fica a dever em grande parte à dádiva efectuada pelo Dr
Augusto Lopes Cardoso, bem como a todos aqueles que contribuíram com donativos
para a Instituição, cujos nomes serão pela Instituição dado conhecimento
público”.
Na expectativa de não esquecer
ninguém, devo dizer que me foi difícil compilar quem deu o quê, tanto ao nível
material como imaterial. No entanto, é uma descrição e relato que se pode
sempre actualizar face aos documentos e relatos verosímeis que entretanto forem
aparecendo.
Assim, dando corpo ao deliberado
na acta atrás mencionada:
Estêvão Gonçalves Ribeiro, “ Como
utente do “Centro de Dia” e consciente da necessidade urgente da existência de
um lar em Medelim, no dia 3 de Fevereiro de 2006, na Caixa de Crédito Agrícola
Mútuo na dependência de Monsanto, declaro ter procedido à transferência para a
conta do Centro Paroquial de Solidariedade Social de Medelim, da importância de
cem mil euros e, é minha vontade, que esta verba se destine exclusivamente para
efeitos de construção do “Lar de Medelim”, que tenho conhecimento estar projectado.”
Este é o extracto da missiva onde sem oposição dos seus herdeiros
naturais, o Estêvão Ribeiro doa e deseja o melhor sucesso ao empreendimento que
espera ser de célere execução.
Estêvão G. Ribeiro [FR] |
Celeste Pires Marques e seu marido, Hector Forni, foram também mecenas
importantes doando à instituição o valor preciso de 23.966.114$00 o equivalente
a 120.000,00 euros, conforme sua vontade expressa em testamento.
Celeste P. Marques e Hector Fonni [FL]
Ana Maria Pires Marques, mesmo
numa altura em que a doença a debilitava, trabalhou abnegadamente no PARES,
viabilizando com a sua persistência uma parte importante do financiamento da obra pelas estruturas do
estado, nomeadamente a Segurança Social.
Placas comemorativas de reconhecimento pelos serviços dedicados à causa que foi a construção do Lar de Medelim [FL]
O Cónego Victor Vaz, Presidente natural da Direcção do “Centro
Paroquial de Solidariedade Social de Medelim”, proporcionou condições para que
durante o seu consulado o sonho de muitos medelinenses fosse concretizado.
Cónego Victor Vaz [FL] |
Não só o Presidente, como todos os elementos que compuseram o órgão
executivo que é a Direcção, fizeram-no e continuam de forma graciosa e, com maior ou menor
responsabilidade e funções, deram algum do seu tempo à “causa”, pelo que são
aqui referidos:
Conforme acta nº1 de 27 de Outubro de 2006, era relatada a direcção:
Presidente, Cónego Victor Vaz
Vice-presidente, Ana M. Pires Marques
Secretário, Alberto Teodósio
Tesoureira, Belarmina Gil.
Na acta nº13 de 22 de Outubro de 2007 a direcção para o triénio
2007-2010, relata:
Presidente, Cónego Victor Vaz
Vice-presidente, Albano Pires Marques
Secretário, Maria J. da Ribeira Avelar
Tesoureiro, João Cortiço
Na acta nº51 de 1 de Novembro de 2010 a direcção para o triénio
2010-2013, relata:
Presidente, Cónego Victor Vaz
Vice-presidente, Albano Pires Marques
Secretária, Palmira M. F. R C Teodósio Amaro
Tesoureiro, João Cortiço
Vogal, José Correia
Na acta nº81 de 12 de Dezembro de 2013 a direcção para o triénio
2013-2016, relata:
Presidente Padre Luís Moreira Bernardo
Vice-presidente, Albano Pires Marques
Secretário, António Pires
Tesoureiro, João Cortiço
Vogal, José Correia
Em 24 de Junho de 2014, o Presidente é substituído pelo Padre António
Castanheira.
A 1 de Outubro de 2014, o Presidente passa a ser o Padre Martinho
Lopes Mendonça.
Mas, voltando um pouco atrás. A
primeira pedra na construção do Lar, veio a ser lançada a 13 de Março de 2008,
tendo a instituição ficado em condições de oferecer a valência de internamento
em 1 de Setembro de 2009.
Desde a concretização do
projecto, o lançamento da primeira pedra, o seguimento da obra até à sua
finalização, esta, foi seguida pelo Vice-presidente e o tesoureiro da
instituição, Albano Reynolds Pires Marques e João da Graça Policarpo Cortiço
que entregaram graciosamente, muito do seu tempo para garantirem a boa
continuidade dos serviços prestados pela instituição.
Albano Pires Marques continuou a obra que foi o sonho de sua mulher,
chamando a si a responsabilidade de fazer aprovar o projecto pelas entidades
competentes, conforme acta nº 6 de 20 de Janeiro de 2007.
Em alternância com a esposa Ana M. Pires Marques, Albano Pires Marques assume a
Vice-presidência da instituição, formalizando de vez o Centro Paroquial de
Solidariedade Social de Medelim, conforme actas nº7 de 3 de Março de 2007 e acta
nº 10 de 26 de Junho de 2007 que lhe “delega
todas as competências relativas ao projecto e construção do Lar”.
O João Cortiço, foi o tesoureiro da instituição desde 2007 até 2017 e
acompanhou toda a construção desde o seu início ao seu término.
Numa obra desta envergadura, foi indispensável o senso e equilíbrio de
um homem que soube dosear o fluxo financeiro sem derrapagens nem alterações
inapropriadas tão comuns na gestão dos dinheiros públicos.
João Cortiço [FP] |
Na acta nº 36 do entretanto extinto “Conselho Geral”, datada de 12 de
Abril de 2012, é mencionado que: “O
Vice-presidente propôs um louvor especial para o trabalho dedicado e
profissional desenvolvido por João Cortiço, tesoureiro desta instituição, o que
o Conselho Geral deliberou por unanimidade aprovar”.
Além dos mecenas já referidos, é
de toda a justeza mencionar os grandes e pequenos doadores, pois todos foram
mecenas que viabilizaram a construção do que hoje designamos por “Lar de
Medelim”.
O
Município de Idanha-a-Nova, esteve e continua a estar na primeira linha dos apoios à Instituição.
(imagem "picada" da Internet)
(imagem "picada" da Internet)
(imagem "picada" da Internet)
(imagem "picada" da Internet)
Segue-se uma lista de mecenas, (ver a lista) todos eles importantes pela disponibilidade e participação naquela que foi por muitos considerada a obra maior da comunidade.
(imagem "picada" da Internet)
Augusto Lopes Cardoso, contribuiu com uma verba de quinze mil euros,
empregues na aquisição de equipamentos para a lavandaria.
(imagem "picada" da Internet)
A Associação “O Arcaz”, contribuiu com o fornecimento de lençóis e
fronhas para todas as camas.
(imagem "picada" da Internet)
ACDRM-Associação Cultural Desportiva e Recreativa de Medelim, doou um
cheque de 518,39 euros, conforme a acta nº5 de 13 de Janeiro de 2007.
(imagem "picada" da Internet)
Segue-se uma lista de mecenas, (ver a lista) todos eles importantes pela disponibilidade e participação naquela que foi por muitos considerada a obra maior da comunidade.
A inauguração processa-se com
pompa e circunstância e fica registado o momento em placa comemorativa. Mas, a
história da instituição não vai com certeza acabar aqui. O futuro ditará se
outras valências, serviços ou organização no âmbito da solidariedade social
virão a ser necessárias na sociedade medelinense.
Na acta nº 37 do entretanto
extinto “Conselho Geral”, datada de 1 de Dezembro de 2012, é mencionado que: “Será instituído o dia do Lar de Medelim por
altura das festas de verão do Senhor do Calvário na Segunda-feira, pois é
quando se reúne toda a comunidade de Medelim”.
Referências bibliográficas
[1] Comunicação apresentada ao
Congresso das Beiras, reunido em Viseu em Setembro de 1953 – “Centros de
Assistência Rural – de João Frade Correia”.
[2] Retalhos de Uma Vida – Maria
da Natividade Quilhó em Agosto de 1987
[3] Homenagem a D. Maria Rita
Pires – Dr. João Lopes Cardoso – ed. 31 de Outubro de 1993 – CMCD – Centro
Municipal de Cultura e Desenvolvimento de Idanha-a-Nova
Créditos fotográficos
[FM] Acervo particular da Milas
[FP] Fotos de A. Pires
[FL] Acervo do Lar de Medelim
[FR] Acervo de Miguel Ribeiro
Parabéns por este trabalho.
ResponderEliminarBruno Gillot "espanhóis"
Apesar deste trabalho ainda não estar acabado, obrigado pelo reconhecimento.
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